Portfólio A problemática por trás das expressões “bandido bom é bandido morto” e “CPF cancelado”
Curso: CST Investigação e Perícia Criminal
Semestre: 2°
A proposta de Produção Textual Interdisciplinar Individual (PTI) terá como temática A
problemática por trás das expressões “bandido bom é bandido morto” e “CPF cancelado”.
Escolhemos esta temática para possibilitar a aprendizagem interdisciplinar dos conteúdos
desenvolvidos nas disciplinas desse semestre.
Para atingir os objetivos desta produção textual, você deverá seguir as instruções voltadas a
elaboração do trabalho disponibilizadas ao longo do semestre, sob a orientação do Tutor(a) a
Distância, considerando as disciplinas norteadoras. A participação na consecução da proposta é
fundamental para que haja o pleno desenvolvimento de competências e habilidades requeridas em
sua atuação profissional. Nessa produção textual você deverá considerar o caso apresentado na
sequência.
SITUAÇÃO GERADORA DE APRENDIZAGEM (SGA)
A problemática por trás das expressões “bandido bom é bandido morto” e “CPF cancelado”
Você com certeza já ouviu a frase “bandido bom é bandido morto”, que foi o slogan de
sucesso da campanha eleitoral utilizada por José Guilherme Godinho, o Sivuca, Delegado de Polícia
do Rio de Janeiro, para se eleger, em 1986, Deputado Estadual. Desde então, disseminou-se no
discurso cotidiano. Sobre essa expressão, leia os textos que se seguem:
Pesquisas indicam que parcela significativa, que varia de 37% a 57%, da população brasileira
concorda com a afirmação “bandido bom é bandido morto” (a variação se explica pelas
diferenças de período, região e metodologia de cada pesquisa). Alguns fatores podem explicar
o recurso a essa expressão: experiência direta ou indireta de vitimização por crimes violentos,
o alto grau de indiferença e banalização da morte, o baixo nível de confiança nas instituições do
sistema de justiça penal, potencializados pela exposição a conteúdos violentos veiculados pela
mídia (programas policialescos e redes sociais); assim como a facilidade de se transferir a
responsabilidade da execução aos policiais, livrando-se o indivíduo do peso de assassinar
alguém (o que talvez não o fizesse por conta própria). Como slogan, a sentença é muitas vezes
emitida sem reflexão e convergências com outras ideias ou experiências de quem a fórmula,
servindo ainda como escudo emocional contra o medo e a insegurança, como vetor para
expressar raiva e indignação, ou até como uma necessária limpeza moral por meio do reafirmar-
se como “trabalhador” e “cidadão de bem” oposto ao “vagabundo” e “bandido”. Isso fica
evidente na constatação de que, embora a maioria dos brasileiros sustente um discurso
justiceiro em razão da insuficiência institucional, parcela majoritária repudia o linchamento.
Mas, quando pesquisas revelam que a maioria da população defende o endurecimento penal,
a redução da maioridade penal e a aprovação da pena de morte e da prisão perpétua, o que se
evidencia é uma cultura punitivista disseminada na sociedade; as altas taxas de criminalidade e
as falhas das instituições penais decorreriam, portanto, de uma insuficiência de repressão e
castigo. (FRANÇA, Leandro Ayres. Bandido bom é bandido morto. CRIMILAB.
https://www.crimlab.com/dicionario-criminologico/bandido-bom-e-bandido-morto/67 Acesso
em 20 dez. 2021)
(…) mas o que afinal pode-se afirmar que significa, na essência, o agora ditado popular “Bandido
bom é bandido morto!”, em pleno Estado Democrático de Direito? Significa grave retrocesso
histórico e humano, este que se sentindo incapacitado e aviltado com tanta violência na
atualidade, vê como solução a violência policial, o restabelecimento do Estado Policial,
acreditando inocentemente que essa é a solução, mas isto enquanto não for vítima desse
nefasto sistema alguém próximo ou parente, ou seja, enquanto for o outro, tudo bem.
Simbolicamente se está prestando segurança pública enquanto o número de criminosos
aumenta, afinal matar alguém sem que esteja acobertado por uma norma penal permissiva,
torna o assassino um outro bandido que cegamente e de forma paradoxal passa a se ter,
implicitamente, como “bandido bom”, num ciclo de “bondade” que não tem fim, afinal se
violência gera violência, não se pode combate-la racionalmente com o que a incrementa, sob
pena de continuarmos a tratar só dos efeitos e não das causas de forma interminável, como o
próprio sistema alimenta. (PECÊGO, Antônio José. Bandido bom é bandido morto!? Uma frase
da década de 80 que renasce como ditado popular. Empório do Direito. Disponível em:
https://emporiododireito.com.br/leitura/bandido-bom-e-bandido-morto-uma-frase-da-
decada-de-80-que-renasce-como-ditado-popular Acesso em 20 dez. 2021).
Parece que, agora, a frase da vez é “CPF cancelado”. Sobre isso, leia o texto que se segue:
A expressão “CPF cancelado” é uma forma de referir à morte, e é comumente utilizada em casos
de homicídios cometidos por policiais por arma de fogo. Em coluna publicada no jornal Folha
de S. Paulo em abril de 2019, o escritor Sérgio Rodrigues afirmou que o “CPF cancelado” não é
apenas um eufemismo para a morte, como outros tantos termos da língua portuguesa. O autor
destaca que a expressão carrega um tom sarcástico, ao desumanizar as vítimas – reduzindo-as
ao número do CPF – e ao mesmo tempo comemorar as mortes. Rodrigues também afirma que
a expressão é empregada normalmente como uma tática de identificação e demarcação de
inimigos. Não à toa, o “CPF cancelado” é normalmente associado à figura do “bandido”. A ideia
de “CPF cancelado”, portanto, dialoga com a cultura por trás da gíria “bandido bom é bandido
morto”. O Brasil é um país com alta letalidade policial. Também é um país em que a ideia de
que “bandido bom é bandido morto” ainda é difundida por parte da população, incluindo
Bolsonaro. Silvia Ramos, da Rede de Observatórios da Segurança Pública, analisou o impacto da
expressão “bandido bom é bandido morto” na violência policial em entrevista ao Nexo de 2017:
“Mesmo que o policial saiba que está fazendo algo ilegal, como executar um criminoso, ele acha
que aquilo não é ilegítimo nem imoral. Ele sabe que não se pode executar um criminoso quando
está rendido, ou fazer uma emboscada para matar alguém numa área de periferia do Brasil. A
questão hoje do crime e da segurança é esta: quem está sendo morto? Fossem jovens de classe
média alta de áreas abastadas, a polícia mudaria em semanas. Quando alguém fala ‘bandido
bom é bandido morto’, está falando que jovem, negro, pobre, de periferia morto não é
problema meu.” (NEXO JORNAL LTDA.
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2021/04/26/Como-%E2%80%98CPF-
cancelado%E2%80%99-virou-o-novo-%E2%80%98bandido-bom-%C3%A9-bandido-
morto%E2%80%99. Acesso em 20 dez. 2021).
Agora, considere a seguinte situação: você é um investigador da Polícia Civil e é chamado para
palestrar num evento sobre Segurança Pública destinado a diversos profissionais da área, entre eles,
delegados, peritos criminais, papiloscopistas, escrivães e outros agentes. O tema da sua fala é,
justamente, a problemática por trás dessas expressões.
Para a realização de sua palestra, você precisa elaborar o roteiro de sua apresentação levando
em consideração os conteúdos de diversas áreas: Direito, Criminologia, História, Argumentação e
Lógica. O intuito é rebater essas expressões, demonstrando que elas não têm lugar num Estado
Democrático de Direito que observa o princípio da legalidade.
SITUAÇÃO-PROBLEMA
Considerando o contexto apresentado e com base nos conteúdos trabalhados ao longo de
nosso semestre, resolva os seguintes passos apresentados a seguir:
Passo 1
É preciso, primeiramente, compreender que a linguagem é a base da comunicação e que nos
comunicamos a todo momento estando inseridos em meio à sociedade. No contexto apresentado,
você é um investigador da Polícia Civil e fará uma palestra a colegas de área sobre a temática da
problemática por trás das expressões “bandido bom é bandido morto” e “CPF cancelado”. Mesmo
sendo um evento de oralidade, por ser um contexto formal, faz-se necessário um planejamento da
sua fala. Assim, tendo por base a teoria da comunicação, trazida por Jakobson:
a) Relacione os seis elementos da comunicação as informações hipotéticas apresentadas,
identificando, principalmente, o tipo de linguagem a ser utilizada nessa situação
comunicativa.
Passo 2
A importância da ressocialização do condenado através da imposição da sanção tem sido um
assunto cada vez mais debatido, especialmente pela significativa contribuição disso no combate à
criminalidade.
Sobre o assunto da prevenção enquanto forma da ressocialização e da prevenção criminal,
responda, fundamentadamente, os questionamentos a seguir:
a) Em que consiste a função preventiva da pena?
b) Quais são as classificações da função preventiva e em qual delas podemos inserir a
ressocialização?
Passo 3
As expressões “bandido bom é bandido morto” e “CPF cancelado” contraiam os princípios de
um Estado Democrático de Direito, como é o caso do Brasil.
a) O que é um Estado Democrático de Direito? Quais as suas características?
b) Qual a relação de um Estado Democrático de Direito com os direitos humanos?
Passo 4
FECHAMENTO: exemplificando boas práticas vivenciadas em sua atuação profissional
Neste momento, você deverá exemplificar boas práticas vivenciadas no exercício de suas
atividades profissionais, que demonstre os conhecimentos adquiridos com as disciplinas que
envolvem essa atividade e com questões cotidianas e regionais sobre os conceitos aqui abordados.
Realize uma pesquisa para apurar os dados estatísticos sobre a população carcerária atual
no Brasil e qual o perfil dessa população carcerária, incluindo o percentual de presos não
condenados. Além disso, pesquise as estatísticas sobre o número de mortes por armas de fogo no
Brasil.
Dica: utilize o Atlas da Violência disponível em:
https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/24/atlas-da-violencia-2020.